sábado, 31 de outubro de 2009

YES, WE HAVE BANANAS

Longe, vagos vagidos de buçanha. Eu, feito em Gramacho, fico a catar palavras no lixo. A paisagem imóvel como a frígida. O tempo não passa, o calor não passa. Urubus a repetir o suor! o suor! Diante da impossível domesticação do sol a idéia obésa e, flácida, flatua. Nos trópicos só Deus é discreto e elegante.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rendo a memória. Soldadinho de chumbo flechado no pátio do Forte Apache. Ginevra de Benci presente feito a chuva. Daisy baila na pontinha do pé a me azucrinar, quase alada, os caiaques sem retorno. Cathy me atira em brasa no Atlântico, cru que nem iguaria de tamoio. Ema me encara: o rancor nos olhos de Ema. Caço pistas. Se me for chamar, chame Doghouse Reilly. Carne é comburente. Às vezes aspersão, outras tempestade de verão. Azucrinado, me ponho a criar sapos em mimetismo de serpente. Se moral há, série de flexões é.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

ALFAIATE DE TARZAN

Desde o 2º império, ainda que não floresça, o Rio amanhece cantando. 3 sólidas pilastras de sustentação: ali no meio, Manuel Antônio de Almeida; mais pro fim, Machado e Pompéia. O príncipe, D. Pedro III, coroado qual Paulo Autran, desce ao terreiro a fim da navalha e do passe. A roça se eriça. A tradução de 4 anos é Copa do Mundo. Se não a consciência, ao menos o tato dos próprios limites. Sob a égide da maior dupla caipira peço de pé a saideira, entre mulatas e louras do chã.

sábado, 24 de outubro de 2009

Tijuca Santaclara Estácio

Tempo é questão de talento. Às vezes, basta método. Ou ida até a primeira das quatro estações do metrô. O trem cheio de vagões, ontem, hoje e amanhã, antes e depois, sempre e nunca, mas tudo um ruído só. E passa. Talvez. Questão de método, ou talento.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sobre Laços e Cultos

O que tem vida escorre. Pago a ela para ver a cicatriz. Casa de paixões banais. Oxímoro, nenhuma paixão é banal. Traço círculo e assimétricos geometrismos nele inscritos. A manhã em brasa. Cabe apenas atear fogo à barroca paisagem que os olhos dissimulam. Fetiches no quaradouro. Barba, cabelo, bigode. Quéops, Quéfren, Miquerinos. Antígona, Édipo, Electra. Jus civile, Jus gentium, Jus naturale. Líberté, Igualité, Fraternité. Groucho, Harpo, Chico. Três notas depois, ao sol, o dia de tododia se refaz no mesmo passo contido onde se brinda a rotina.

sábado, 17 de outubro de 2009


Fui acho que com o Aldyr pegar tatuí pra atirar nas pessoas gordas. Elas ficavam de barrigão pra cima debaixo das barracas. A gente passava e mirava uns passos adiante. Geralmente acertava no umbigo. Mais que de susto os berros acho que de dor. A garota veio da Atlântica em nossa direção na areia. O sorriso dela era de quem sabia. Nunca mais deu pra esquecer. Era Beth. Faro só tem tatuí e gente gorda. Algumas Isabel. Uma Elizabeth, mas com buço. Descendo descendo as escadinhas na altura do Forte, falsa magra que não passa que não passa.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

VIAGEM

Fazer mala, atividade difícil, mais do que, por exemplo, entender a 2ª lei da Termodinâmica, muito mais, ou o Princípio da Incerteza, de Heisenberg, nem se compara, beira à impossibilidade, só xingando. Essencial em toda viagem boto os Flamengo Sketches, All Blues e So What, com o sexteto de Miles Davis; do lado enfio sem pestanejar Misty e Willow Weep for Me, com o quarteto de Wes Montgomery; de um só golpe empurro Joy Spring, com o quinteto Clifford Brown-Max Roach e a trinca Doxy, Oleo, Airegin, com o quinteto de Sonny Rollins; deixa ver, A Love Supreme, com o quarteto de Trane, claro, pode haver noites densas, melhor tacar lá também Pithecanthropus Erectus, com o quinteto de Mingus; para caso de acidentes aperto num canto Take Five, com o quarteto Brubeck-Desmond; por cima, bem à mão, o trio de Bill Evans, Very Early, ufa! bem cedinho, que viajar é preciso.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

SOLSTÍCIO

Sentir-se covarde como Tersites. O que cabe é ir ao mar, onde o homem nada e o tolo se afoga. Se amor não é, qual este sentimento? Vida, noves fora, é livro mal lido, mulher mal amada, cidade mal visitada. Nadar até as Cagarras, sem tomar atalhos de Mársias. O mundo é tua arte, nada.

sábado, 10 de outubro de 2009

A ORELHA DE VAN GOGH

O que ele sabia era sua coleção de selos. O que ele sabia ele falava. E falava sobre qualquer assunto. Mas falava pouco. Se o assunto era política, falava uma frase de efeito de Noam Chomsky. Sobre Bush, ou sobre Obama, não importava. O importante era o efeito da frase. Futebol? Ainda era o ópio do povo. Povo? A frase de Max Weber ainda era imbatível. Às vezes trocava nomes. Dizia Henri Rousseau. Depois ficava repetindo baixinho, para si, Henri... Henri... Devagar repetia várias vezes a frase e, como coda, o autor, Henri, Henri... Até lembrar-se. E admitir, para si, que a memória já não era a mesma.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Bandeira que me inspira e alastra: beijo pouco, o falo basta. Absorvo, feito mingau, o ódio ao intelectual - comerciante profissional de idéias de 2ª mão. Acendo vela a Hayek como Antoine Doinel a Balzac. Anoto mentalmente, o poeta finge e mente. Saio de dentro da ruiva, do quarto, não deixo gosto, nem cheiro, só pouco de dinheiro. O dia penetra no outro, obsceno, desnecessário. No café duas damas tagarelam. Passantes passam, bacantes bacam. Refaço na memória o plano de matar o presidente: mas que livros trocar pelas garrafas de cana?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Vênus, Eros, Afrodite

- Cacau, bota a perna ali em cima
- Lê, em cima de quê, da outra?
- Que outra, o ménage não é à truá?
- Shica, se concentra se não a coisa degringola
- Então é melhor tirar esse papagaio de cima do ganso
- Deixa o papagaio, é preciso alguém pra narrar e a gente entender o que tá acontecendo
- De quem é esse umbigo?
- Manda pra seção de achados e perdidos e se concentra, meu bem
- Se eu ficar mais um segundo nessa posição, vou ter cãimbras
- Tem de ficar assim, se não como eu vou pincelar?
- Pensa nas modelos de pintor, tudo pela arte!
- Só quero ver onde isso tudo vai dar
- Ai, ele vem chegando... Alguém deixou a porta aberta?
- Isso aqui é um fígado?
- Como é que se arfa, é assim?
- Acelera o ritmo, mas contrai
- Quem tá tocando o sininho?
- Nossa! NOSSA! N O S S A!!!
- Assim...
- Como assim, Lê?
- Quem falar agora, vai ficar de voyeur!
- Uhmmmm! Aaaaaiiiiii! Uuuuuiiiiiii!
- Acho que é o vizinho de cima
- Eu não sou, eu tô no meio
- Deve ser o pessoal da ambulância chegando
- Agora ele vem! Tô ouvindo os passos, cada vez mais forte
- Senhorita, dá pra passar a manteiga?
- Putitanga!
- Esse barulho não foi o que vocês tão pensando
- Sim, sim, sim
- Em cima do dicionário do Houaiss, não!
- Acho que é convulsão
- Segura ela!
- Meu Deus! Nossa Senhora!
- Aí, podia?
- É o amoooooor, que mexe com a tua cabeça e me deixa asssssim...
- Tirem o pé da poça, anda! Vamo fazer assim, agora:

sábado, 3 de outubro de 2009

A brisa de nada que os cariocas chamamos frio me traz o mapa. Atravesso, salto triplo, a São Clemente em frente à casa do Rui. Dobro à esquerda, XIX de fevereiro, o cheiro de pão fresco embriaga. Passo pro outro lado e dobro à direita em plena Guerra do Paraguai. Quase morro atropelado ao atravessar a Guilhermina Guinle. Sobrevivo, o suor a realçar cheiros. Dona Mariana, Eveline, Matarrari, o cemitério na perpendicular distante. O Cristo aos pouquinhos ficando grande, a cada passo. Real Grandeza num pique. A cócega no bolso é a jogada ensaiada de sinuca, ali adiante, quando chegar o Pedro II.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O ronco distante do trovão é anúncio de que o verão vai ser à vera. Saio do café na Ouvidor e desço até a Rio Branco. Desce do táxi e, a minha frente, gingando como se dançasse, feito Jeanne Moreau deu a dica, a ruiva e seu – tive de contar, uma, duas, para ter certeza – par de coxas fazem o tempo dar uma parada, como queria aquela personagem do bardo da Avon. A única dúvida: vai entrar na Buenos Aires 44 ou na Rosário 65? Sigo o seu gingado que nem um lateral o do Mané. Ela entra, o drible fatal: aprendo o caminho do gol. Pego o atalho da Quitanda, me acenam de dentro do boteco. Sede é hábito e hábito se cura com caipirinha. Menos que cidade, o Rio é uma hipótese.