domingo, 29 de novembro de 2009

porquê é luxo

sábado, 28 de novembro de 2009

saudade é artigo de luxo português

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

dançar é dar à alma a leveza do corpo

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Outro

Encontro o ex-Senador da República. Elegante nas grifes, uma ruína no corpo. Estende a mão, discreto e afável “ao ponto”. Anos de treinamento. Pergunta pelo jesuíta, “você sempre gostou de conversar com ele. Não se interessa mais pela metafísica?” Um malabarista de palavras: convivendo com os melhores adjetivos, quase alencariano, uma série contundente de críticas ao governo. Viro o rosto pro outro lado a fim de evitar vê-lo afogar três colheres de açúcar na mínima xícara de café. Por sua vez, ele volta o rosto abruptamente, o olhar voraz uma súbita zoom viscontiana seguindo o trote do adolescente na calçada em frente. Não interrompe o discurso. Décadas de experiência. Sabe que foi notado. Malicioso, sustenta firme o olhar ao encarar-me, um sorriso de quem entende, em no mínimo meiadúzia de sentidos. Minha vez de estender a mão, a dele um naco da untuosa carne de quem não tem um único músculo no corpo, involuntário que fosse. Até nunca, nenhum sorriso a ser entendido.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Um d'Eles

O ex-padre aquele o encontro nas termas. Charuto e roupão. Irrompe efusivo. Pergunta pelo ex-senador (UDN, ARENA, MDB, ontem quadro do PSDB, hoje a família deputada pelo PT) e ele mesmo responde: frequenta outra sauna. De garotos? não pergunto. Cita Sto. Tomás de Aquino. Talvez ainda não tenha sido “atendido”. Touché! desaparece. Na saída, charuto e camisa de seda estampada, se aproxima amplo e íntimo, como gosta, como abomino. E solta o verbo. Pouco falo, muita fala. Me calo. Teve ganas de matar os que amara por antecipar-lhes o sofrimento. Comove-se e, Deus do Céu!, me abraça. Só vê a si próprio. Totalitário, em tudo se mete – como agora, entre meus pensamentos e eu. Midas cancerígeno que transforma tudo que toca. Pergunta aonde vou, respondo que em outra direção. Como num filme de Buñuel, ele arma fração de sorriso e apalpa alguma coisa (a foto da Luana? um 22?) no bolso da calça. Me diz, vai com Deus – como se fosse dele.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os Homi

Dois senhores conversam na varanda do restaurante, mosaicos, mármores, cerâmicas emolduram volumosos ventres. Fico à distância e tal ângulo capazes de fazer-me reconhecê-los: o ex-padre e o ex-senador da república; este, esplêndida gravata conti, pura seda, traço e motivos de firenze, muitas cores, todas domadas; aquele, majestoso puro cubano, ímpio incenso a emergir de tão profusa fumaça. Conversam sobre as mazelas a um tempo do país e da alma. O padre cita com cuidado cronológico Aristóteles, Maquiavel e Karl Schmidt. O senador move-se lentamente na cadeira e espreme contra a almofada um peido grave. Antes de nova citação do padre, que virá, (Bergson!), o senador acomoda na garganta a dose de milho fermentado. Em volta, é tudo aroma.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

o fim de tarde no outono é uma reverência que o rio presta a cézanne

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Nietzsche e Freud são, a meu ver, as influências primárias sobre a "teoria das influências" exposta neste volume. Nietzsche é o profeta do antitético, e sua Genealogia da Moral é o mais profundo estudo conhecido por mim sobre as tensões revisionárias e ascéticas do temperamento estético. Freud reconhecia na sublimação a mais alta realização do espírito humano, reconhecimento este que o alia a Platão e a todas as tradições da moralidade judaica e cristã.

Harold Bloom, A Angústia da Influência

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O casamento tem como correlativo imediato a prostituição. Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

nó, nós

a fêmea, por penetrada
terra sitiada
por menos que mexa ou meça
estanca
mais fácil perder a cabeça


o macho, golpe e galope
é capacho
por mais que mexa ou peça
concentra
não alcança outra órbita

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

a m a n h e c e n d o

o cenário caro
lento se desfaz
inda resta raro
um halo de azul
enquanto o sol ralo
espreguiça e estica
até mim em ouro
sua língua loura
e lambido eu oro

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TANTO PAPO ATÉ QUE FURA

- Quem busca a si mesmo, em verdade busca o amor.
- Diz isso em português.
- A possibilidade de estar no mundo com os outros.
- Sei. Derme + consciência é o 1º membro da equação.
- É destino
- Não há destino. Há escolhas.
- Me acende um cigarro?
- Não ainda. Ação confere caráter.
- Hum...