terça-feira, 31 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

À PROPÓSITO DE GILBERTO FREYRE

Anjo da cidade, vive sentado como se à espera do barbeiro; o telefone o bem mais importante, o que o faz ligar-se a todo homem. Egocêntrico. Belo como anjo e barroco, a sala só espelhos a multiplicá-lo - no reflexo o anjo faz-se Deus. Egoista. Serve os outros como álibi para servir-se, no outro vê a si como superior. Ególatra. Fala, fala e o discurso um cartão de visita de sua inteligência - e não nota, nas beiradas, a nódoa de ingenuidade, a mácula de primarismo. Efígie efusiva de um sonho que foge. Criança só carne, ornamentos de sinhazinha ou, mais ostensivos, de mucama. Anjos e mulheres são vaidosos. Alienados em si próprios e nas artimanhas de seu próprio fascínio, modo e moda a confluir a serviço do ser demasiado. Só languidez e sedução, mas também inequação e paradoxo. Existe apenas se refletido no outro. Sozinho é inútil tal navalha esquecida aberta no breu da barbearia fechada.