quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

JINGOUBEL!

crianças em uníssono: Papai Noel! Cadê nosso presente?

Papai Noel: tô de sunga inda.

criancinhas em uníssono: que saudades!!!

Papai Noel: saudade é minha e ninguém tasca!

Espírito Natalino: tenho uma indagação a fazer.

Papai Noel: hum?

criancinhas em uníssono: pre-sen-te! pre-sen-te!

Rena: tira a sunga!

Espírito Natalino: sejamos graves como convém à data.

Papai Noel: ok, manda.

Rena: tira... tira... tira...

Espírito Natalino: o que se faz com o Natal?

Papai Noel: Deixa ver... gasta-se dinheiro com presentes, deseja-se felicidades aos familiares e vai todo mundo dormir.

criancinhas em uníssono: p-r-e-s-e-n-t-e!!!

Papai Noel: se o natal acabou explicaí por que a árvore da Lagoa tá cada vez mais cheia de anúncios?

Espírito Natalino: O povo só pensa em ir às compras.

Papai Noel: povo só é bom em linchamento.

Espírito Natalino: Povo vende tudo, compra tudo.

Papai Noel: e fede: os parentes se largando pelos cantos, o cheiro de castanha tomando o lugar de tudo.

criancinhas em uníssono: Meu Deus, que cheiro!

Papai Noel: pif paf puf!!! a tia-avó flatua feito um titanic.

Espírito Natalino: a parte melhor é a garotada dando uns amassos pelos cantos que não têm parentes se largando.

Papai Noel: rou-rou-rou.

Espírito Natalino: mulher de porre em natal é mais divertido que improviso do Lula.

Papai Noel: pra mim mulher bêbada é a única que tem dono.

Espírito Natalino:
teve a constituição da mandioca, agora vão inventar um natal da mandioca, quem não puder deixar no shopping da esquina tantos acres de mandioca nem chega perto do natal, o máximo q chega é num 2 de dezembro e tá de bom tamanho.

rena: tem gente que já se contenta com 12cm de mandioca.

criancinhas em uníssono: presente!

Papai Noel: durma-se com um barulho desses.

Espírito Natalino: tia-avó não deixa ninguém dormir no Natal.

Gerente do Shopping: Dão licença que tão atrapalhando o comércio. Vou chamar os pulícia.

Simone, John Lennon, as renas: X Christmas láláraiá

PM: circulando, circulando.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

domingo, 14 de novembro de 2010

VIDA É DANÇA

Ele: não há dúvida. Capitu traiu.
Ela: homem trai e acha q ue mulher é igual.
Ele: trair é bobagem, a menos que você conheça uma anã.
Ela: uma o quê?
Ele: ontem vi uma anã dançando, me chamou pra dançar, não resisti.
Ela: você dançou?
Ele: dancei, claro, fiz presepadas, peguei no colo, fiquei de joelhos.
Ela: não acredito... Funk?
Ele: acredite, ela chegou perto de mim, eu estava numa mesa cheia, ela perguntou: você dança?
Ela: mas que anã mais atrevida... mulher ousada, tudo o que um homem gosta, né?
Ele: fiz ela rodar tanto que deve estar rodando até agora.
Ela: você estava acompanhado?
Ele: estava, mas não se resiste a uma anã.
Ela: era mesmo uma anã?
Ele: anã mesmo, anomalia, cabeção, corpinho, a mão quase uma bijuteria.
Ela: deve estar apaixonada até agora, então.
Ele: ela pra mim, você dança? eu, se minha namorada deixar faço até sexo na pista, mas por pudor só até a posição 342 do kama sutra.
Ela: fala sério, você nem chega à posição 69!
Ele: aí eu perguntei a ela: quem conduz? e ela: você, claro.
Ela: você está brincando, né?
Ele: levantei e comecei a presepada: me ajoelhei, me atirei dramaticamente aos seus pés.
Ela: onde isso?
Ele: na Estudantina, uma orquestra de primeira.
Ela: não pode estar falando sério.
Ele: nunca vi enterro de anã, elas morrem?
Ela: isso foi verdade mesmo?
Ele: ela, a anã, depois da dança: quer meu telefone?
Ela: deixa de ser palhaço!
Ele: disse a ela, e seria politicamente correto?
Ela: aí acabou tudo, né?
Ele: poisé, o que é bom dura poucos cm.
Ela: e tua namorada?
Ele: ela, quando eu voltei à mesa, disse: não acredito que você dançou com aquela anã!
Ela: minha nossa!
Ele: respondi calmamente: claro que não dancei, o que foi que você bebeu? ela: vai tomar e completou a frase toda.
Ela: você é doido.
Ele: acho que ela pensou que eu a trocaria pela anã.
Ela: sabe o que mais gosto em você?
Ele: que acabo sempre me dando mal, né?
Ela: a tua capacidade de não apanhar.
Ele: hoje liguei pra ela, a namorada.
Ela: devia ligar pra anã.
Ele: se tivesse anotado o telefone da anã, ligava pra ela.
Ela: claro, anã também é mulher, só que tudo em miniatura. Mas os sentimentos são de tamanho normal.
Ele: anão não tem sexo, é igual criança e, você sabe, pedofilia não é a minha praia.
Ela: anãs são sempre virgens, então?
Eu: nem isso, são anjos.
Ela: e a namorada?
Ele: ela, seriíssima, fazendo as pazes: nunca mais nada de anãs, hem?
Ela: tadinha...
Ele: falei pra ela: então posso pedir pra você só andar de sandalinha sem salto?
Ela: vocês, homens!
Ele: e ela: deixa de ser bobo, menino!
Ela: se fosse eu, te matava!
Ele: eu disse, ok, ok, estava brincando... anda então de joelhos um pouquinho pra eu ver?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010


SE O BRASIL FOSSE UMA PAÍS SÉRIO LULA SERIA UMA PIADA

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

FULL HAND



feito disse didi
se jogo é jogo
trane é trane











terça-feira, 31 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

À PROPÓSITO DE GILBERTO FREYRE

Anjo da cidade, vive sentado como se à espera do barbeiro; o telefone o bem mais importante, o que o faz ligar-se a todo homem. Egocêntrico. Belo como anjo e barroco, a sala só espelhos a multiplicá-lo - no reflexo o anjo faz-se Deus. Egoista. Serve os outros como álibi para servir-se, no outro vê a si como superior. Ególatra. Fala, fala e o discurso um cartão de visita de sua inteligência - e não nota, nas beiradas, a nódoa de ingenuidade, a mácula de primarismo. Efígie efusiva de um sonho que foge. Criança só carne, ornamentos de sinhazinha ou, mais ostensivos, de mucama. Anjos e mulheres são vaidosos. Alienados em si próprios e nas artimanhas de seu próprio fascínio, modo e moda a confluir a serviço do ser demasiado. Só languidez e sedução, mas também inequação e paradoxo. Existe apenas se refletido no outro. Sozinho é inútil tal navalha esquecida aberta no breu da barbearia fechada.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A N G L O A M E R I C A N O

esbaforido na chuva abre a porta já no relance me pareceu a Peebles petshop lá longe chove cântaros na memória nunca chove ali na gaiola um coelho magro um pálido ao lado não sei quê animalzinho com pelo branco a correr os olhos logo se alcança a placa cinza escrita a mão Ricochet rabbit & Droong-a-long o ruído um relâmpago na lembrança onde mora a febre
O dia passa. Na prateleira de cima passo rapidamente os olhos há Giacomo Joyce, não Punkin' Puss, Mush mouse. A febre não passa. A voz da mãe chama de volta a casa. Onde?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

BR

Nunca antes neste país este país esteve tão perto de não ter depois.

No Brasil, Freud não explica. Conta ao pé do ouvido.

Cumprir a lei, neste país, é golpe.

Neste país quanto mais fortes são os poderes do povo, mais fartas as tetas da vaca.

No Brasil autocrítica é pôr a culpa nos amigos.

Neste país marchinha é hino.

Neste país tática leninista vai bem com um dedo de branquinha pro santo.

Neste país bom mesmo é ser filho. A alternativa é ser boliviano.

Neste país nada dá certo. Nem as profissionais.

No Brasil, Deus é pizzaiolo.

Neste país governar é abrir outra garrafa.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Brasil é o século XIX do futuro.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

CHEGOU A HORA DESSA GENTE BRONZEADA MOSTRAR SEU VALOR

Bem, amigos da rede globo: adentra o gramado o onze canarinho, impávido, colosso. Vamos à escalação. No gol, Os Sertões. Na zaga, CasaGrande&Senzala e GrandeSertão:Veredas. Laterais: O Triste Fim de Policarpo Quaresma e Angústia. O quadrado mágico na meiúca: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e Memorial de Aires. No ataque: Memórias de um Sargento de Milícias e O Ateneu. Rola a pelota.

sábado, 12 de junho de 2010

A COPA DO MUNDO É NOSSA

Daqui a uns dias será tudo em inglês: offside, corner, kick, shoot, goal, popcorn, Scarlet Johansson, yeah, oh yeah, oh yeeaaah. O melhor lugar para se acompanhar a Copa não é na África, mas no quarto da empregada. Não fui convidado, não vou – simples feito um drible. Que drible, se na seleção não há quem drible? Talvez o Robinho ainda não tenha desaprendido tanto com o Mestre Dunga. Copa do Mundo é aquela fase da vida em que a gente passa as 2 semanas seguintes explicando o que é impedimento para a gostosona do 5º andar. O Brasil é o favorito. Difícil lembrar de Copa em que o Brasil não tenha sido o favorito. Ganhar é outra história, o importante é torcer e, se o juiz não estiver olhando, roubar. Significa dizer que Brasília seria ideal pra sediar uma Copa. Jogo inicial de Copa é imperdível, se você não tiver à mão um livrinho de Simenon. Livrinho de Simenon dura o tempo exato de jogo inicial de Copa. Meu jogo inicial de Copa favorito, um Brasil perfiladinho em amarelo, foi na Copa de 94, A Morte do perna-de-pau. Técnicos são personagens importantes em Copa, erram quase tanto quanto ministros de estado, só que têm mais responsabilidade, é claro. Mostre-me um técnico que não tenha cometido um erro fabuloso e rirei, gargalharei na tua cara. Agora, o melhor drible da Copa não vai ser do Messi, nem quiçá do Robinho, mas teu: é preciso driblar convite de amigo pro churrasco na casa de fulano, cerveja, pagode e futebol é combinação que acaba sempre no maior barraco. Tipo sobrado de alvenaria na Rocinha. Porque, repara: Copa do Mundo é uma espécie de entrega de Oscar para heterossexuais, embora os homens se agarrem o tempo todo, se abracem e jurem amor eterno às “nossas” cores, alguns até comemorando o gol agachadinhos ao lado da bandeirinha e, se alguma mulher se aproxima, erguendo-se constrangidos, ajeitando a roupa. Meu palpite é Brasil 3 a 1, contra qualquer adversário, havendo ou não convulsão no tempo regulamentar. O mundo vai ter outra vez que nos engolir!

domingo, 23 de maio de 2010

sábado, 15 de maio de 2010

sábado, 8 de maio de 2010

AGOSTINIANA

foi farto o parto

farto em fezes
farto em mijo

eis o porquê

bem depois
feito agora

nunca me aflijo

quarta-feira, 5 de maio de 2010

DRAMA SEM ATO

Ela: A droga santíssima ativa e retém o sangue no tecido cavernoso, lá... onde canta a sabiá!

Ele: O herói moderno é burguês, acomodado, dispersivo e, se intelectual, angustiado...

Ela: A droga, santíssima!, desinibe a substância que libera o sangue e provoca, ai meu Deus!, a ereção...

Ele: ... torturado...

Ela: Veja este peitinho... Um pêssego?

Ele: ... As estruturas do poder...

Ela: Uma perinha?

Ele: O herói de nosso tempo é impotente... Tristes anos.

Ela (sorrindo): Ânus?

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Hoje não, Scarlett, tô com dor de cabeça.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

CAÇA À RAPOSA

verdade não é cousa e lousa
verdade é ave que não pousa
se pousa é farsa, diz-que-diz
a verdade não tem raiz,
mas asa: é vôo e busca incerta
verdade não prende, liberta

sábado, 17 de abril de 2010

UM DRAMA E MUITOS, MUITOS ATOS

descreva-se
tempo é dinheiro, senhôra, paga quanto?
credo, parece um garoto de programa
vai ser barba, cabelo e bigode?
deixa de palhaçada
palhaço, enfim descrito. next!

o que as pessoas acham de você?
é o Aurélio, ou o Houaiss, quem diz que achar e julgar é igual?
mas contextualiza, vai
dona Berenice Xavier julgava legal nas traduções
dona Berenice, dona Benta, responde!
as que acham, julgo que acertam, agora as que julgam, acho que acertam mais ainda. manda a próxima

descreva a atual relação, não vale falar do Ronaldo e seus travecos
a atual relação é assim: sinto a veia engrossar na ponta do seu vizinho
que vizinho?
é tarso, metatarso e genro?
o vizinho é o genro?
quem rir primeiro não relaxa nem goza

descreva sua última relação, agora sim, pode falar do Ronaldo e seus travecos
recente não é última, errei?
errou!
se errei, à luta q vida é labuta. tem mais?

onde vc queria estar agora?
essa é fácil
nos braços da Paola?
mulheres também têm intuição, babe?
não, é que eu leio teu blogue
ah, então é você!
hehehehe... eu e uma legião de fãs, que acompanham a novela das oito

essa é boa, responde?
manda
o que você pensa sobre o amor?
pensar?
é, o que você pensa sobre o amor?
sobre?
mais uma vez: o que vc pensa sobre o amor? que chato, custa responder de primeira?
primeira?
é!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk?

vamos pra próxima. como é sua vida?
suada
aêêêêêêêêêê... respondeu de primeira
vamo suar mais e partir pra 2ª

acabou?
nãããoooo!!!

se tivesse direito a apenas um desejo?
um desejo é sacanagem de petista
vai, responde, se tivesse direito a apenas um desejo?
um só desejo já é uma contradição, desejo é plural
já sei, é suruba que você propõe, né? pode parar que isto é um meme sério
se foi a Bi quem mandou, a seriedade calça constança basto, errei?

tá acabando, aquieta aí! uma frase sábia
num teia vergoinha de ufá uma ifitrela nu peitu
hã?
nosso John Wayne, babe

uma frase para o próximo
cuidado com o povo
que povo?
mais não digo nem pergunte, só confia
mas mais fortes não são os poderes do povo?
saravá!

tem que repassar, diz pra quem
castigo é comigo merrrrmo
então, repassa pra quem?
vivo ou morto?
pra quem e quantos você quiser
Scarlett Johansson, Catharine Zeta-Jones, Eva Green
tá bom, agora fala sério e repassa
Luma de Oliveira?
que garoto chato!
Paola?
Paola Oliveira?
Paola! Paola!
Lula, Galvão Bueno, pai Arnápio, pode mandar pra todo mundo que você quiser, desisto

.

sábado, 10 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

m e m e n t o

vazio
Àsia sem rio
rio sem fluxo
animal sem nexo
nem ânsia
só teu vulto
de bronze
dança

domingo, 4 de abril de 2010

D I Á L O G O

-Ela: vida noves fora é o quê?

-Ele: se noves fora é porque houve oito dentro, tá indo bem.

-Ela: quando eu morrer não quero choro nem vela.

-Ele: sem vela? nem algemas? uma calcinha vermelha? sequer um anão albino?

-Ela: : depois de morta? vou usar isso tudo onde? no inferno???

-Ele: : inferno o kct, que não te quero perto do lula.

-Ela: mas pensa, só quero ir pro céu se for open bar; se não, faço companhia pro lula e quem mais estiver por lá. Pensando bem, deve ser bem mais divertido lá...

-Ele: ok, façamos assim: a gente vai aonde o lula não estiver.

-Ela: combinado!

-Ele: combinado não quero, sem improviso é mpb.

-Ela: mas podemos encontrar por lá alguém que toque jazz, você dança comigo?

-Ele: se o som for ruim eu danço, se for bom a gente bate palma.

-Ela: você acredita em Deus?

-Ele: só enquanto estiver vivo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Do 98 ao 127 o traço diagonal onde não mais se enxerga o olhar calculado de hipotenusa, ainda que aflito, ainda que exausto, de Lindalvinha é o símbolo precário da ausência que bem, que mal, se assenta. Lindalvinha é a Capitu possível. A traição de Capitu é bobagem feito favas contadas, uma vez que o destino de Bentinho é trair-se. Éramos gente, eu, tu, tua mãe, que prometíamos. Só cumprimos o regulamento, sequer o coração no bico da chuteira dos acréscimos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

domingo, 21 de março de 2010

E O OUTONO CHEGOU QUENTE COMO UMA NEGRA

sábado, 13 de março de 2010

uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa

quarta-feira, 10 de março de 2010

ESSE JOGO NÃO PODE FICAR 1x1


- Uma garrafa de Dão Quinta da Pellada!

- É pouco.

- Aquela praia no Algarve?

- Esquentando...

- O Dão Quinta da Pellada depois da praia no Algarve.

- Com os meus cedês, fechado?

domingo, 7 de março de 2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

domingo, 28 de fevereiro de 2010


lanço-me intrépido ao frenesi da ação
exausto não há repouso mesmo no fim de tal jornada
e já que não há calma, que também não haja culpa
e assim faço e refaço-me rijo em felpa
leal cumpridor das obrigações da carne

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

olá, olá!

O tempo, nós o matamos pelas beiradas exatamente como ele também vai fazendo conosco e eu não paro, nem o tempo, às vezes um fica sem o outro e eu tenho ultimamente ficado absolutamente sem ele, o tempo, este Deus que é um rio, que flui, nunca igual, sempre o mesmo. Ia te dizer dos escritores. Ia? Minha avidez pelos livros foi forjada por Monteiro Lobato, Érico Veríssimo e uma necessidade de arranjar algo diferente da turma adolescente. Hoje tenho certeza que os livros me livraram da delinquência. Turma de adolescente tende sempre à delinqüência. Minha vontade de ação foi se tornando reflexão e ganhei um súbito, inesperado senso de equilíbrio. Meu primeiro assombramento foi Dostoievski, Crime e Castigo, que li com catorze anos e me puxou o tapete; andei com este livro na cabeça dias e dias, refazendo febrilmente equações que me foram sugeridas e sosseguei, um pouco, ao achar que havia disposto as incógnitas de forma razoável, ao menos verossímil. Depois fui entrando no castelo das letras e ficando à vontade nos corredores, labirintos. Três franceses de outro século me encheram olhos, coração e imaginação: Flaubert, Balzac e Stendhal. Claro que neste momento descobri Machado, o bruxo mulato do Cosme Velho e decidi que ninguém escrevia melhor que ele. Machado de Assis é Deus, ou quase. Um mulatinho pobre do Rio de Janeiro, que vende doces na rua para ajudar o orçamento doméstico, que aprende latim ajudando a celebração de missa na Igreja de Lampedosa, que aprende francês ao comprar pão com a dona francesa da padaria em São Cristóvão e que ressuscita no sagrado 1881 contando póstumas memórias e elevando seu nome ao ponto máximo. (Todo 21 de junho, data de seu nascimento, eu, às vezes acompanhado, às vezes só, faço passeio cívico pisando ruas e adentrando igreja e casa machadianas). Há prazeres enormes: Scott Fitzgerald, Anthony Burgess, Joseph Conrad, Vladimir Nabokov. Hoje no Brasil ninguém escreve melhor que Dalton Trevisan (embora dele se possa dizer que tenha se tornado taquígrafo de si próprio). A década de vinte me enche as medidas, recuperando o fascínio que havia antes, o fascínio dos 3 franceses e do grande Machado: Marcel Proust, James Joyce, Italo Svevo, Hermann Hesse, Thomas Mann, D. H. Lawrence, William Faulkner, Franz Kafka, nomes, nomes, Aldous Huxley, que me parece o modelo de intelectual ocidental melhor realizado. Hoje na literatura americana ninguém me parece melhor que o canadense, recém falecido, Saul Bellow. Há Phillip Roth, ainda vivo, que talvez lhe ombreie. Na Europa, talvez Martin Amis, que abandonou Londres e hoje vive cá perto, Montevidéu. Em espanhol, o cubano exilado em London town e agora por certo no céu, Guillermo Cabrera Infante. E impossível deixar de lembrar dos gigantes portugueses Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco, e dos russos Tolstoi e Turgueniev. Nomes, nomes. Duas narrativas me fascinam pelo que têm de seminal: A Bíblia e Homero – ali está a cultura humana, a eternidade em que acredito, tenho a idade do homem, sou o sangue do Velho Testamento, sou Ulisses voltando para casa e para o seu cão. No século XVII, Shakespeare refaz Bíblia e Homero em uma obra a um tempo abundante e de síntese. Well, well, como se diz nas grandes cidades brasileiras, assim feito um soluço, por cá eu fico, o ofício me chama, (mo chama?); boto um ponto, mas não final. Há os poetas, claro. Tudo é movimento e continuação. Abraço carinhoso, beijo recatado, lambida lasciva, vai concedendo aí uns minutos de paciência. Vã? De toda forma, que o sono lhe seja leve.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

QUINTA

A quinta, com seu desenho rítmico de três notas curtas e uma longa, como a mimetizar o passo mítico do jogo do amor, anuncia, zero de pompa, 37,85% circunstância, a magnífica aurora de outro dia. Quinta à vista, em que nada é plácido, ou garrido, sem métrica, nenhuma rima, tudo urgência e movimento, tudo parto, tudo bote, um país só de esquinas. O dia diante do moleque, o dia um leque de experimentações. A sede, já em si sediciosa, de jackdaniels me persegue o dia feito velha canção cuja melodia sozinha se arma nos lábios e, seduzidos, se deixam soprar. Sopro forte. Como se a quinta fosse em Sintra e descobrimento, que invertendo a mão, fosse Europa adentro. A tampa da manhã se fecha com nenhum ah, nenhum oh, uma porção de ueba. A tarde é árdua como convém a quem ama. E dura um instante. A noite surge enfeitada de estrelinhas que nem festa de São João. Convite à dança. Anarriê! A quinta vai, eu fico, que ficar, se não preciso, é o traje caipira que bem nos cabe.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

quartas-feiras

o inverno no Rio cai invariavelmente numa quartafeira

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

terça

Um terço do dia passou desfiando o terço - rogai por nós pecadores. Um outro a tecer as tramas da febre terçã. Por fim torce por menos um de seu dia-adia.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

SEGUNDA QUE SEGUE

O chique no chiqueiro é ser porco. Urge encontrar novo ponto de chope no Centro. Neste boteco há mais odores que sabores, como se ainda fosse a década passada. Juntaí um steinhager, ô Ramos. Ela e seus cotovelos falam, falam. Só a tolero porque fuma. Ao lado a ruiva uiva. Achava, aos 20, que a cia me seguia; aos 40, o cio. A 2ª segue, o inverno estufa. Desce outro, Ramos, e dobra o steinhager. Ela fala, fala. Falar é o nosso maior patrimônio. Fico a lembrar, quase que só dedo, o arranjo do Ted Heath que não me sai da cabeça. Pendura isso, Ramos. A segunda pela bola sete. Chamo o táxi: segue esta segunda. O motorista acelera e não me diz que é tolice querer concluir.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

SODADE, MO BEM, SODADE

sumir, sentir saudade
e a saudade, o que é?
é orgasmo invertido
um favor sem pedido
a estival maré
que o ânimo invade

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Olá.

A página em branco é impasse e compulsão. Risco nenhum, nem angústia. Nasci em Botafogo, um espetáculo diário entrevisto de duas janelas: de meu quarto, o sol experimentando reflexos e tons impressionistas nas águas da baia de Guanabara, o Pão de Açúcar a um tempo ao fundo e no centro; da sala, a pele diáfana do dia se desfazendo sobre o morro do Corcovado, o Cristo imponente oferecendo seu perfil. Minhas avós ensinaram muito: a materna, portuguesa, que a vida é luta e prazer diários; a paterna, carioca, o profundo gosto de ouvir e contar histórias – e esta que conto é fruto inequívoco. Os avôs: o paterno, carioca, trocou minha avó por Paris, mas voltou e mesmo à distância me mostrou que devemos interferir no processo – ao menos intensamente tentar; o materno, português, as delícias da mesa e, sobretudo, do vinho. Com ele aprendi a lição essencial sobre o vinho (e a única que de fato é necessário saber): vinho é tinto, ponto. Dos pais, ambos cariocas, o que de imediato me vem à memória do que a mim mais impressiona em cada um, ele: a dignidade, ela: a emoção. Estou na idade da razão, ou devia estar. Se é bom aqui estar, não sei. Lugares bons de estar: a biblioteca, onde aprendi o que de mais importante sei; o bar, onde algumas tardes me pareceram ideais; na companhia da mulher desejada, onde o novo se renova pelo milagre da paixão. A paixão é o elemento essencial da fé, a figura mítica que se busca, o experimento que torna luz qualquer treva e de sombras faz trilhas. A bebida preferida: o primeiro copo de cerveja no pleno calor; a dose de Porto nos fins de tarde do outono; se a temperatura cai um pouco, a caipirinha é insubstituível; antes de sair para a festa, a dose pura do uísque; algumas manhãs preguiçosas inspiram um gin-tônica à beira do papo ou da piscina; insubstituível também o corpo denso do bourbon em noites também densas; e o café, óbvio, muito café, fresco, forte, sugarless sempre. O trabalho é mais que ofício, é bom vício. Adoro saladas, frutas, verduras, legumes, seus frescor e sabor. E carnes, massas. Música: diariamente jazz e bossa-nova; algumas noites Bach, Mozart, Beethoven, Wagner. As quatro pilastras em que me apoio. A maior música ocidental são os seis concertos de Brandenburgo, de Bach. Não discuto, eu sei. Ouço música o tempo todo, mesmo quando não posso: toco-a de memória. Da bossa-nova, o e-nor-me Tom Jobim, na voz e no violão de João Gilberto, no piano de Sérgio Mendes, João Donato, arranjos de Eumir Deodato, a sublime voz de Elis, nomes, nomes... Do jazz, o piano de Bill Evans, o sax-tenor de Lester Young, o violão de Wes Montgomery, a voz de Billie Holiday, nomes, nomes; meu disco de cabeceira é Kind of Blue, sexteto com Miles Davis, John Coltrane, Cannonball Adderley, Bill Evans, Paul Chambers, Jimmy Cobb, nomes, nomes... O maior filme da história do cinema: A Mãe, 1926, do russo Pudovkin; o mais belo: A Terra, 1930, do também russo Dovjenko; a maior seqüência que já vi em cinema: as escadarias de Odessa do estupendo Encouraçado Potemkin, 1925, do também russo Eisenstein; as duas maiores atuações que conheço: ator, Marlon Brando em O Último Tango em Paris; atriz, Jane Fonda em A Noite dos Desesperados – ambos um impressionante feixe de nervos a exibir as vísceras; o filme que mais me interessa na história do cinema: Terra em Transe, de Glauber Rocha, o maior artista brasileiro do século XX. Há três pintores brasileiros por quem largo tudo para ver exposição, todos com prenomes iniciados em I: Iberê Camargo, Ivan Serpa e Ismael Néri; o pintor que mais me fascina: Cézanne. Sou Flamengo de vestir sagrada camisa rubro-negra e gritar gooooooooooooool mesmo quando a voz um fiapo. Fibro e vibro. Escritores, bem, bem, isto fica para uma outra vez, a certeza que já me alonguei muitíssimo e fustiguei tua paciência além da conta. Por ora, abraço e beijo carinhosos (sem ordem porque quando se trata de abraço e beijo o que importa é a desordem), e a talvez vã esperança da tua paciência.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O verão de 42 graus é matéria longe de sonho. Longe a voz de Jo Stafford e o bom gole que aquece. O suor quente de domingo vem pingando até a segunda. A carne inunda. Índio que, deslumbrado com as missangas da orquestra de Claude Thornhill, não pega atalho, acaba por confundir alho e bugalho. Mal fica de cócoras a aguardar o inevitável.

domingo, 17 de janeiro de 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

OVOS COM PURÊ

Ovos. Sempre plural. Não há receita que diga simplesmente um ovo, “pegue um ovo e...”, não há. Ovo é sempre no plural, “pegue os ovos e agora...”. Então, faça isto, pegue – com cuidado, mas não com tanto cuidado que subtraia o prazer de pegar, entende? uma receita deve sempre deixar margem a improvisações e a idiossincrasias – pegue os ovos, ei, mas não é para ficar só pegando, é preciso fazer alguma coisa com eles, então saia da cama e vá para a cozinha, evidente: leve com você os ovos. Na cozinha, certifique-se se tem batatas. Tem, claro: você é uma vencedora. Sem soltar os ovos, descasque as batatas. Existe uma máquina que faz isso num piscar de olhos. Não tem aí? Sem problema, pegue-a com a vizinha. A vizinha não pode emprestar pq ela tbm está segurando os ovos? Não se desespere. Coloque as batatas para assar. Assadas, a pele sai facilmente. Não a sua, claro, a das batatas; a sua é uma outra receita. Ainda com os ovos na mão? Ótimo, não é? Agora amasse as batatas. Como? Com quê? Qualquer coisa serve, e na ausência de qualquer coisa sente-se sobre elas. Amasse-as bem. Ahm? Pode sim, bem pode ser tanto substantivo quanto advérbio. Está difícil chegar ao ponto do purê? Chame, então, uma amiga. Não, não importa que amiga, desde que seja da sua comunidade no orkut. Não deixe ela pegar os seus ovos, peça-lhe para trazer os dela. Ria muito com ela, faça piadas, quanto mais grossas as piadas melhor sairá o purê. Deixe o telefone tocar, há coisas mais interessantes na vida do que atender telefone. Ah, claro, pode ser o dono dos ovos – mas repara: há alguma coisa mais excitante que deixar de atender o dono dos ovos e rir disso e dele com a amiga? De mais a mais, o mercado é na esquina, ovos é o que não falta. Pense um pouco em você e, claro, sem largar os ovos.







segunda-feira, 4 de janeiro de 2010