quarta-feira, 26 de outubro de 2011

alô, alô, alô

Ok, deixa de faltar um dos mails prometidos. Promessa é a um tempo 34,76% dívida, 59,14% dúvida, o restinho dádiva, vai reparando. Os poetas e seu labor. Poesia é um capítulo à parte, a palavra usada com extrema maestria, o conceito expresso com ritmo-melodia-&-harmonia, a palavra elevada à altura da música, esta pantera sem rivais em sua beleza desmesurada; poesia é fundo fosso escuro, não tem passado nem tem futuro, não tem dentro nem fora, poesia é um lento agora, poesia não tem sul nem norte, poesia é corte, corte profundo – daí ser fosso, daí ser fundo, ser escuro, mas seu destino é alçar-se, soerguer-se da algaravia de vozes, ascender do caos e atingir o sublime possível ao homem. Amo os poetas feito se ama uma mulher, ou os edipozinhos as mães, ou os que temem a Deus. Se há linguagem com a qual se confeccionou o universo, hei-las: uma física, a matemática; outra metafísica, a palavra. O épico do caolho Camões (“para servir-vos, braço às armas feito, para cantar-vos, mente às musas dadas”) e o lírico do vário Pessoa (“para mim ser é admirar-me de estar sendo”), entre os dois meu coração balança. Os Lusíadas é minha aventura singrando o Atlântico no século XV e me deslumbrando com o conhecimento do mundo; Pessoa e seus heterônimos é uma bíblia nova escrita diretamente nesta bela e bárbara língua portuguesa, que revelou, cá no Brasilzãozinho, os enormes Gonçalves Dias (“andei longes terras, lidei cruas guerras, vi lutas de bravos, vi fortes – escravos!”), Castro Alves (“quero viver, beber perfumes”), Drummond (“de tudo fica um pouco, um pouco do teu queixo no queixo do teu filho”), Bandeira (“belo, belo, belo, tenho tudo que não quero”), o bloco é grande, e este admirável poeta, o maior dentre os vivos - uma vez que a súbita e recentíssima perda de Bruno Tolentino ("não tem sentido dizer que flui o que gagueja") nos deixou a todos um tanto órfãos - Alexei Bueno (“nascemos carne, e a cada dia nos vamos transformando em sonho”) – que além de ser extraordinário poeta, é extraordinário amigo. Há os franceses Baudelaire (“homme libre, toujours tu chériras la mer”) e Rimbaud (“j’ai horreur de tous les métiers”). Há os americanos Ezra Pound (“make it new!”), T. S. Eliot (“these fragments I have shored against my ruins”). Há os ingleses Herbert (“and now in age I bud again”), Keats (“a thing of beauty is a joy for ever”), Shelley (“for love and beauty and delight there is no death nor change”), Byron (“she walks in beauty, like the night of cloudless climes and starry skies”), Auden (“if equal affection cannot be, let the more loving one be me”), Blake (“the road of excess leads to the palace of wisdom”). O irlandês Yeats (“the best lack all conviction, while the worst are full of passionate intensity”). Nomes, nomes… talvez fosse melhor escrever deles as bem medidas palavras, ou melhor ainda: fazer chover seus versos sobre todas as cabeças e corações. Em espanhol há o admirável Antonio Machado, “caminante, no hay camino, se hace camino al andar”. Etc, etc, blá-blá-blá, ok, ok, m’alonguei demasiadamente, o vão e o em vão, fazer o quê, feito perguntou o careca aquele, bye by now.