terça-feira, 29 de setembro de 2009

AAAAAAAATCHHHHIIIIMMMMMMM!!!

Atchim! Me sinto anãozinho de Branca de Neve. Nunca consigo lembrar o nome dos sete. Tem o gripado ali, o zangado, o mestre, o feliz, tem o Dunga, o Romário, sempre falta um. Sete as maravilhas do mundo, as notas musicais. Tom, grandiloquente, depois do sambinha de uma só, abusa três notas na abertura das águas de março, mi-mi-mi, ré, dó-dó. Vou, no máximo, de a barquinha ligeirinha voga voga sem parar. Se bem que manjo direitinho Rita Hayworth catando as notas nos musicais da Columbia. O caso com a crooner daquela boate no Leme conta? Do meu canto, vou contando espirros: ATCHIM! Dó sustenido. Uma vez, ontem se bem me lembro, ergui-me na madrugada do anti-higiênico e lúcido estado de gripe e, heróico, adentrei o dia, o sol, diante do magnífico melodrama de Hitchcock, em que Bernard Herrmann grita o tempo todo para chamar a atenção que não lhe cabe: o homem errado sou eu! sou eu! Onde é que tem um lenço nesta casa?

sábado, 26 de setembro de 2009

À beira bar

O sol arde urgente como o desejo. Peço, “ô moreno, mais meiahora de chope”. Charles, o mais velho dos quatro, olha em torno e entorna - um arroto a saudar a crioula que passa. Aimer à loisir, aimer et mourir au pays que te ressemble. Paul, o único de nós com barba, deixa a mão esquerda pousar (ah, ces instants sereins) nas coxas de Arthur, o mais jovem. Um só gole ao matar o chope. Faz gesto de mais um ao garçom ao mesmo tempo que, sutil, faz um sonoro peido. Le son des tambourins. Quando a mão de Paul chega ao seu destino, Arthur engole o chope e lambe os beiços. Ergue-se abruptamente e ali mesmo na calçada grita aos deuses da manhã. Je pisse vers les cieux bruns, très haut et très loin. Eu rio.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009


No meio do povo que vota e é votado. Feito ripa no coração de Drácula. Não é a maldição de um nome que pesa sobre Tebas. Ouvidor, Rosário, Beco dos Barbeiros, Matacavalos. Sair de Corinto não basta. O cavalo assusta e empina. Os olhos fixos e calmos de Hipponus tudo acompanha. Nada lhe é estranho. Não ao policial, que multa o carroceiro. Lembrar de dizer a ela que fica muito bem de preto. Ganho de presente um Jackie Bayard, com lembrete: é jovem guarda. Ok, ok, lábaro que ostenta, estrelado, a manchete: ordem no caos. Não chove. Crianças vendem amendoim, balas, os irmãos menores. Abraço de garçom tem 10 por cento? Ligar pra ela depois da 4ª caipirinha. A noite cai, que algo tem de cair. Elas passam, buscam olhares como o darwinista o galho mais alto. A caipirinha revela o peso leve do mundo. Urge rugir.

domingo, 20 de setembro de 2009


Entrei na Mariana e deixei a São Clemente pra trás, Anamaria na biblioteca da casa do Rui. Peguei, na casa do Rui, o peixe colorido num corregozinho de nada e engoli. Contei a memória de infância pra Anamaria, que teve o nojo retrospectivo. Na altura da casa dos Mello e Franco, a presença suave de Anamaria. Não virei, não parei. Se esforçou pra acompanhar o passo. Antes de entrar na Voluntários eu disse daqui vou sozinho. Senti que ela sentiu o gosto colorido do peixe. Dessa vez pior que o nojo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009


Quanto da dor é linguagem? Respostas e perguntas de circunstância valem o que o cachorro deixa no poste. A maior loucura que se pode fazer com uma mulher é casar com ela. Não, não se atende celular em público. Sair do boteco quando se acha que ainda cai bem, muito bem outra dose. Lá fora é sempre outono - menos para Baudelaire do que para Vernon Duke é o prêmio. Porteiros devem ser impessoais, menos no Rio. Na portaria do hotel, entre perplexo e curioso:
- O Sr. vai ficar sozinho?
- Há certas coisas que só faço sozinho.

domingo, 13 de setembro de 2009

HERÁCLITO FLAMBÉE

fogo é permanência
queimou, fogo não é
fogo é estar queimando
eterno presente
não é imaginação nem memória
fogo é agora
fogo é chama
cinza é depois, fogo foi
estar vivo é queimar
estar em fogo
fogo chama
é risco, arde, inflama
não pousa nem repousa:
toma!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O dia começa às seis. Às seis, dizia Júlio Carlos, fartam as belas. A boutade me disse no Leme. Hoje longe como tudo. Na saída da Alliance: às seis fartam as belas. O Professor Durval nunca entendeu Duvivier afora o blablablá em que o envolvíamos. Sartre ao escrever, escrever, escrever sobre Flaubert queria matar a palavra. Júlio Carlos queria matar o Professor Durval. No início da Gustavo Sampaio deixei um entregue ao outro. Cláudia, minutos depois, perguntava se eu tinha ouvido os tiros. O verde dos olhos de Cláudia nunca me permitiram ouvir nada. Um verde definitivamente contrário a sinestesias. Soube mais tarde pelos jornais. Agora são seis no Leme. Vejo as horas como quem lembra. E, de um jeito que não ouso entender, ouço os tiros. Seis.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


A manhã se abre feito a amante e de um gole tu a tomas.
Ontem não parou, acelerou, avançou o sinal e agora o sol
te lambe q nem animal onírico. O mar no teu pé, na tua
mão o coco, na tua língua o melhor gosto. A receita
recitas de cor. O mergulho: primeiro no mar, teu mais antigo amigo; depois e depois e depois e depois na amante, tua mais recente convicção de transcendência.